Kindle vs. livros de papel: diferenças vão além da forma

Se você é usuário de algum tipo de e-reader, responda: você costuma ler com calma, prestando atenção a todas as frases, ou faz uma leitura mais dinâmica e ágil em relação aos livros de papel? Será que este tipo de comportamento pode alterar o modo como interpretamos ou absorvemos a história?

Uma pesquisa realizada em conjunto pelas universidades Stavanger (Noruega), Nice Sophia Antipolis e Aix Marseille (ambas na França), afirma que sim! O estudo mostrou que aqueles que leem através do Kindle absorvem menos detalhes das histórias do que aqueles que têm contato com o mesmo texto em formato impresso.

Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores dividiram 50 adultos em dois grupos equilibrados em relação a idade e escolaridade, e lhes ofereceram uma história de mistério de 28 páginas da escritora Elizabeth George. Metade leu através do Kindle, e a outra metade teve acesso ao material impresso. Ao final da leitura foram realizados diversos testes, e, curiosamente, em apenas um deles o resultado não foi semelhante: os leitores digitais tiveram dificuldade em organizar cronologicamente os acontecimentos do conto.

Anne Mangen, da Universidade de Stavanger, pesquisadora principal do estudo, disse ao The Guardian que pretendia demonstrar que o material impresso tem um impacto emocional maior nos leitores, mas a única diferença comprovada foi na reconstrução do enredo, na qual os leitores do Kindle tiveram um desempenho significativamente pior. Ela acredita que a experiência física ajuda o leitor a ter noção de progresso na leitura: “Quando você lê no papel, você sente com os dedos a pilha de páginas crescendo à esquerda e diminuindo à direita. Você tem o senso de progresso no tato”, explica.

Mangen já havia realizado um estudo similar, em que distribuiu um texto entre 72 alunos noruegueses, oferecendo versões impressas e digitais. Na época, ela percebeu que os estudantes que fizeram a leitura através do papel apresentaram melhor desempenho nos testes de interpretação de texto. Segundo a pesquisadora, é preciso se aprofundar neste tipo de pesquisa e oferecer ao mercado dados consistentes que apontem quais são os tipos de texto que necessitam do recurso tátil, ou não.

É diferente entre os jovens?

Entre os participantes da pesquisa, havia apenas dois usuários experientes do Kindle, e Mangen assume que será preciso reproduzi-la abrangendo mais este público, mas não acredita que os resultados seriam muito diferentes se realizados com os chamados nativos digitais.

Surpreendentemente, parece que os jovens concordam com ela! Um estudo publicado pela agência inglesa VoxBurner, mostrou que 62% dos jovens preferem a leitura em materiais impressos, principalmente livros. Luke Mitchell, responsável pelo estudo, disse ao The Guardian que ficou intrigado com a conclusão: “É surpreendente porque nós pensamos nos jovens de 16 a 24 anos muito ligados a seus smartphones e dispositivos digitais”, confessou.

A pesquisa foi realizada com pessoas desta faixa etária e apontou pelo menos duas razões pelas quais os livros digitais não as conquistam: o preço e a conexão emocional com os livros físicos. Cerca de 30% dos entrevistados consideram os e-books caros, e acreditam que deveriam custar pelo menos a metade, enquanto 51% afirmaram que gostam de segurar o produto físico. Frases como “gosto do cheiro” e até “gosto de estantes cheias” também foram coletadas abundantemente pelo estudo.

Mitchell acredita que os jovens têm uma relação de status com os livros, pois se pode ver o que uma pessoa realmente leu através de sua coleção, o que não acontece com o Kindle.

Apesar das razões apontadas por Mitchell e Mangen serem diferentes, elas mostram uma realidade completamente oposta à que muitos acreditavam, não estamos tão acostumados assim com os meios digitais.

Você concorda com as duas pesquisas? Ler com o material impresso é melhor? Conte-nos sua experiência nos comentários.

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