Como criar um novo padrão de consumo na internet?
Estamos o tempo todo conectados, seja pelo computador ou por um dispositivo mobile, todos dedicamos valiosas horas do nosso dia à internet. Basta o 3G falhar ou a conexão parar e ficamos irritados. Mas, você já se questionou o que financia todo o conteúdo a que temos acesso? A resposta é simples: a publicidade, que hoje vemos invadir nosso feed de notícias nas redes sociais, ou em inúmeros pop-ups nos sites de notícia. Mas como seria a internet sem este recurso?
Em um recente artigo no site The Atlantic, Ethan Zuckerman, diretor do Centro de Mídia Cívica do MIT, debateu como a internet se tornou tão dependente da publicidade e como tem usado a vigilância dos seus usuários para garantir a manutenção de um modelo fracassado.
Ele conta que começou a ficar incomodado com o assunto depois que acompanhou a palestra de Maciej Cegłowski, um programador renomado, durante a conferência de web design Beyond Tellerrand, que afirma que a vigilância padrão é atualmente o único modelo de negócio eficaz na internet.
Este monitoramento se tornou “necessário” para que os canais pudessem oferecer a seus usuários o anúncio mais adequado conforme seu perfil e interesses, e alcançar o retorno pretendido a seus anunciantes. Um padrão de negócio que se estabilizou rapidamente, pois oferece aos produtores de conteúdo a possibilidade de se preocupar exclusivamente com a qualidade do material oferecido e com o crescimento da audiência, deixando que a publicidade torne o negócio lucrativo.
Tal comportamento criou o que Cegłowski chama de “storytime investor”, um discurso que os canais usam para convencer os anunciantes, explicando quão ricos estes poderão ficar se colocarem suas propagandas no site, já que seus anúncios irão valer mais do que de todos os outros. Isso enquanto exibem o anúncio para milhões de internautas, pedindo para que eles se interessem e invistam seu dinheiro em certos produtos.
De acordo com Zuckerman, os anúncios que mais trazem retorno financeiro, hoje, são aqueles em que há a intenção de compra, como os do Google AdWords. Os demais modelos parecem apenas criar barreiras para os usuários, que são obrigados a minimizar pop-ups, arrastar a publicidade e tentar ignorá-la enquanto buscam acessar o conteúdo que realmente interessa.
O pesquisador fundamenta sua argumentação fazendo uma rápida análise dos dados divulgados recentemente pelo Facebook. No último trimestre, a rede declarou que tinha 1,32 bilhão de usuários e uma receita de US$ 2,91 bilhões de dólares, conquistando neste período US$ 791 milhões de lucro. Segundo dados da empresa, cada usuário passa em média 40 minutos na plataforma, totalizando 60 horas por trimestre, logo, o lucro é de menos de US$ 0,60 por usuário. Sendo assim, a atenção dos espectadores vale apenas um centavo a cada hora dos seus anunciantes.
Um retorno muito pequeno, considerando que a rede social conta com inúmeros recursos de segmentação, que vão desde a localização geográfica, interesses estabelecidos e diversos algoritmos em constante desenvolvimento. Mas, a partir do momento que aceitamos que a publicidade é o modelo padrão que sustenta a internet, o próximo passo é óbvio: precisamos de mais dados, para que haja um direcionamento cada vez melhor dos anúncios, e, assim, possamos aumentar os lucros.
Para tanto, é essencial desenvolver técnicas mais profundas para a coleta de dados, como melhorar as análises das informações geradas a partir dos dispositivos mobiles, criando parcerias com diversos bancos de informações e vigilância. Para que as empresas consigam toda a informação necessária, os internautas têm sido treinados para aceitarem a coleta como parte integrante da experiência on-line, já que sem ela não haveria como garantir o acesso gratuito.
No início da internet, em 1995, a cobrança pelo acesso aos conteúdos disponibilizados e aos serviços on-line provavelmente teria bloqueado o ingresso de boa parte dos possíveis internautas, já que na época até os sistemas de pagamento eram mais burocráticos. Os anúncios nos sites garantiram uma web aberta a todos, assim como a consolidação rápida do meio, mas, de acordo com Zuckerman, este modelo possui pelo menos quatro desvantagens:
1) Publicidade on-line requer vigilância, constante coleta das informações dos usuários, para garantir rentabilidade mínima.
2) Estamos acostumados a gerar muitos cliques e page views, mas pouco engajamento. Este movimento levou os profissionais a criarem novos padrões de medição de audiência na internet, chamados de “minutos de atenção”. Já há uma ferramenta que disponibiliza os códigos para a experimentação desta nova métrica.
3) Este modelo de negócio tende a centralizar a web, fazendo com que poucos canais fiquem com boa parte da verba publicitária disponível, dando força para que as grandes mídias simplesmente comprem seus futuros concorrentes, para manter a monopolização, diminuindo a competitividade e a diversidade no meio.
4) Os sites que prometem personalização de conteúdo para coincidir com os interesses e gostos dos internautas, na verdade são apenas mais um modo de formar banco de dados mais precisos. De acordo com Zuckerman, estes modelos tendem a criar câmaras de eco, bolhas de filtro e outras formas de isolamento ideológico, fazendo com que a população se divida em grupos rivais, em vez de receber informações que contribuam com um debate construtivo.
Em sua palestra, Cegłowski chega a fornecer algumas sugestões de práticas e limites éticos no uso de dados dos usuários, mas deixa outra questão no ar: que órgão iria assumir a responsabilidade por fiscalizar e regularizar este tipo de publicidade?
Novo modelo
Para Zuckerman, já há alguns novos modelos de interação com a internet que tentam se desligar do padrão, garantindo a privacidade dos usuários e a rentabilidade dos canais. É o caso do Pinboard, criado por Cegłowski. O site se compromete com os usuários a não disponibilizar nenhum tipo de propaganda ou vender os dados dos seus assinantes, em contrapartida, o internauta paga uma quantia anual pelo seu uso.
Outra iniciativa é a do Google, de garantir a privacidade dos dados dos assinantes na versão Premium do Gmail, e do Reddit, que criou uma assinatura-ouro para os internautas que batem as metas descritas no site, o que permite acesso a todas as informações sem nenhuma publicidade.
Mas como este modelo poderia dar certo para as grandes redes? Segundo Zuckerman, chegamos a um momento no qual muitos usuários estão dispostos a pagar para manter segura sua privacidade. A cobrança, provavelmente, diminuiria muito o número de usuários de diversas redes, mas, em contrapartida, criaria um sistema com mais concorrência, menos centralização e um espírito mais competitivo e de inovação.
Para tanto, seria necessário repensar os sistemas de pagamento on-line, que possuem altos custos de transação. Não se pode aceitar que as bandeiras Visa e Master alcancem todos os usuários ao redor do mundo, é preciso um sistema de pagamentos com baixos custos, como o Stellar, sistema de conversão de moedas on-line e reais, que oferece o pagamento de qualquer valor com custos mínimos.
Zuckerman é enfático ao afirmar que o nosso sistema atual é ruim, corrosivo e está falido. Precisamos começar a procurar maneiras de criar uma internet mais sustentável, em que os usuários possam apoiar os seus serviços preferidos, e deixar de lado aqueles que invadem sua privacidade e tentam vender seus dados como produto.
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