Baby Boomers e Geração X: conheça os conservadores digitais
O filósofo grego pré-socrático Heráclito denominou “geração” (genean) como o espaço de tempo que leva para um pai ver seu filho gerar outro filho. O Dicionário de Língua Portuguesa Aurélio define o termo como o “conjunto de pessoas nascidas pela mesma época” ou como “o espaço de tempo (aproximadamente 25 anos) que vai de uma geração a outra”.
A sociologia, porém, parece nos oferecer uma definição mais consistente: conjunto ou grupo de pessoas dentro de uma população que experimenta os mesmos eventos significantes em um determinado período de tempo.
Geralmente quando falamos de geração, nos referimos aos jovens (e suas atitudes) de determinada época. Por serem naturalmente rebeldes e estarem tomando contato com a realidade da vida adulta, são eles produto e criador: os que vivem os “eventos significantes” e são mais impactados por eles, e os que buscam ser os agentes transformadores desta própria sociedade em que são criados. É uma relação visceral.
Mais do que uma determinação temporal, as gerações se distinguem por suas características, reflexo direto dos contextos social, político e econômico. Por isso, a delimitação de tempo para uma geração não é assertiva; atualmente, mudanças socioculturais acontecem mais rapidamente do que no começo do século XX, por exemplo. Também não há uma definição exata de quando termina uma geração e começa outra.
Estudiosos, muitas vezes, procuram definir bandeiras específicas defendidas por cada geração – tema que se espalha por diversas esferas da vida destes jovens contemporâneos. Em geral, são assuntos de cunho social.
Apesar de o conceito ser anterior, foi no século XX que surgiu a primeira nomenclatura para uma geração: os Baby Boomers, nascidos entre 1945 e 1960. Depois deles, vieram as gerações X, Y, Z e Alpha, cada uma delas representando uma faixa da história recente do mundo. Para nomear todas as gerações do século XX, mesmo não sendo objeto de muitos estudos, alguns especialistas hoje denominam a geração anterior aos Baby Boomers, os nascidos entre 1900 e 1944, como Tradicionalistas.
Ao longo destes mais de cem anos, porém, há um marco histórico que mudou a forma como todos se comportam e, inclusive, como nosso sistema cognitivo se constrói. Um advento que alterou as relações humanas, diminuiu distâncias e acelerou transformações: a internet.
A Magic inicia, hoje, uma série de textos que irá abordar as cinco principais gerações da história recente – Baby Boomers, X, Y, Z e Alpha –, tendo o desenvolvimento da internet e das tecnologias digitais como ponto referencial. A base deste enfoque é o estudo do especialista em tecnologia da educação Marc Prensky. Em sua pesquisa, ele dividiu as gerações em dois grandes grupos: “imigrantes digitais” e “nativos digitais”.
Adotaremos aqui uma subdivisão baseada em Prensky:
- Conservadores digitais: Baby Boomers e Geração X: aqueles que nasceram e viveram a maior parte de suas vidas sem internet;
- Migrantes digitais — Geração Y: os que tiveram contato com a internet na fase adolescente;
- Nativos digitais — Gerações Z e Alpha: aqueles que nasceram em um contexto digital.
Neste primeiro texto, conheça as gerações que nasceram e foram criadas em mundo pré-internet, os conservadores digitais.
Baby Boomers: nascidos entre 1946-1960
Em 1944, os Aliados tomaram Berlim, pondo fim à Segunda Guerra Mundial. Nos anos que se seguiram, com os soldados retornando aos seus países, foi identificado um grande aumento na taxa de natalidade, principalmente nos Estados Unidos.
Desta “explosão” de filhos – fenômeno em resposta a um sentimento de preservação da espécie, despertado geralmente após acontecimentos negativos – criou-se o termo Baby Boomers para definir os nascidos no pós-guerra.
Nesta época pós-Crise de 29 e pós-Segunda Guerra, os Baby Boomers foram criados em um contexto de retomada da economia e de estabelecimento da mentalidade consumista. Eram tempos de conquista e otimismo.
Os Baby Boomers tiveram maior poder aquisitivo que seus pais, ficando conhecidos por não darem o devido valor e gastarem tudo o que ganhavam. Ao mesmo tempo, é uma geração questionadora e idealista, que reivindicava por seus direitos e lutava contra manifestações de violência.
Nos Estados Unidos, os Baby Boomers passaram, ainda, pela Guerra do Vietnã, que gerou o movimento hippie, pregando paz e amor.
Estão dentro deste contexto, também, o movimento feminista, a revolução sexual, a pílula anticoncepcional, as novas configurações familiares e a luta pelos Direitos Civis e dos negros. O estilo psicodélico para a moda e para a música, com Led Zeppelin, Jimi Hendrix, Pink Floyd, Bob Dylan e Janis Joplin, ganhou o mundo e abriu caminho para que, em 1969, acontecesse o festival de música Woodstock.
No Brasil, os Baby Boomers viveram os resquícios finais da Era Vargas, o início da indústria automotiva no país e a criação de Brasília.
O Brasil deixava de ser “bossa-nova” e se abria para o mundo, vivendo o início da construção de uma cultura cosmopolita. Foi também o começo da contracultura que se alastraria pelo país nos anos seguintes. Tom Zé, Caetano Veloso e Os Mutantes começavam os esforços para a desconstrução da cultura vigente, no movimento que viraria o chamado Tropicalismo.
Os Baby Boomers viveram em um mundo com menos concorrência no mercado de trabalho e as opções de profissões não eram tantas como agora. Esta geração buscava estabilidade, emprego fixo e plano de carreira para permanecer na empresa até a aposentadoria, ou focava em cargos públicos.
Hoje, os Baby Boomers estão chegando ou já passaram dos 60 anos. São avôs e avós que foram criados e viveram mais da metade da vida em “ambiente analógico”. O contato com a internet foi tardio, o que resulta em uma relação sempre baseada na descoberta – por mais interesse e prática com as novas tecnologias, a linguagem digital não é de domínio nato dos Baby Boomers.
Geração X: nascidos entre 1961-1980
A geração seguinte aos Baby Boomers começa em torno de 1960, mas o nome escolhido foi cunhado dez anos antes por Robert Capa, criador da Agência Magnum e um dos maiores fotógrafos do mundo. O termo “Geração X” teria sido usado em 1950 durante uma sessão de fotos com os jovens da época.
No mundo, crescia a ideia de sociedade de bens de consumo, abundância que poderia ser conquistada por meio do trabalho. Há, nestes jovens, certa negação aos costumes “paz e amor” da geração anterior; o conceito de meritrocracia é fruto desta época.
De certa forma, houve um culto à ambição e ao individualismo, a ponto de a Geração X ser caracterizada por alguns estudiosos como materialista e rebelde sem causa.
Na Europa e nos Estados Unidos, a indústria cultural se estabelece surgindo tribos e “subculturas” vinculadas a movimentos musicais – como o hip hop, o new wave, o disco e as variantes do rock, como o punk e o grunge – que ditavam, também, as roupas e o comportamento rebelde dos jovens.
Por aqui, viu-se o ingresso das multinacionais e a busca por construir uma carreira em uma grande empresa.
Inconformada, competitiva e autoconfiante, a Geração X negou o padrão de felicidade dos Baby Boomers (casar, comprar casa e ter filhos) e iniciou o processo de aceitação da união homoafetiva. Além disso, desbravou a maternidade independente e foi a primeira geração a ter mais preparo acadêmico e experiências internacionais.
Estes jovens desenvolveram uma predisposição para a autoconfiança e a autossuficiência, enfatizando o trabalho e as realizações pessoais.
Se os Baby Boomers são, hoje, os avós, a Geração X são pais e mães e estão na faixa dos 50 anos. Eles também passaram mais da metade da vida sem internet e sem as tecnologias digitais, mas se envolvem e inserem de maneira fácil neste cenário virtual.
Segundo pesquisa realizada pelo Grupo Abril, mostrar a família de uma forma realista pode chamar muito a atenção das pessoas da Geração X. Eles também demonstram estar mais dispostos a consumir conteúdo criado pelas marcas, também conhecido como branded content. Nas propagandas, gostam de material que ensine mais sobre o produto ou a categoria. Têm hábitos de pesquisar, ler reviews mais longos e comparar atributos em especificações técnicas.
Insights
O importante é enxergar as diferenças entre as gerações para ter noção do impacto da sua comunicação direcionada a cada uma delas. Cada indivíduo conta e a geração é um dos primeiros estudos que as marcas devem levar em conta para se comunicar.
No próximo texto desta série, falaremos da única faixa considerada migrante digital nesta nossa divisão: a Geração Y, dos Millenials.
Leia também: Economia da emoção? O sentimento humano como foco dos negócios
interessante!!
Que bom que gostou, Natalia. Continue acompanhando o nosso blog!
Muito interessante , um estudo que te faz acompanhar as faixas etárias do homem, passando por vários fomentadores de mudanças comportamental
Olá, Luiz! Que bom que gostou do conteúdo. Continue acompanhando nosso blog.
Legal, sou da geração Y interessante saber dessa diversidade!!